Episode Transcript
Livro dos Espíritos – Um anjo nunca abandona
495. Algumas vezes, o espírito protetor abandona o seu protegido, quando este é rebelde aos seus conselhos?
“Ele se afasta, quando vê que seus conselhos são inúteis e que a vontade de submeter-se à influência dos espíritos inferiores é mais forte; mas, não o abandona completamente e sempre se faz ouvir; é, então, o homem quem tapa os ouvidos. Ele retorna, desde que seja chamado.”
496. O espírito que abandona seu protegido, não lhe fazendo mais o bem, pode fazer-lhe o mal?
“Os bons espíritos nunca fazem o mal; deixam que o façam aqueles que lhes tomam o lugar; então, acusais a sorte pelas desgraças que vos afligem, enquanto a culpa é vossa.”
497. O espírito protetor pode deixar seu protegido à mercê de um espírito que lhe deseje o mal?
“Para neutralizar a ação dos bons, há a união dos maus espíritos; porém, se o protegido o quiser, dará toda a força ao seu bom espírito. O bom espírito talvez encontre, em outra parte, uma boa vontade a auxiliar; aproveita para fazê-lo, enquanto aguarda seu retorno para junto de seu protegido.”
Livro dos Espíritos – O amor sempre respeita
498. Quando o espírito protetor deixa seu protegido extraviar-se na vida, será por impotência de sua parte, para lutar contra outros espíritos malévolos?
“Não é porque não possa, mas porque não quer: seu protegido sai das provas mais perfeito e mais instruído; ele o assiste com seus conselhos, através dos bons pensamentos que lhe sugere, mas que, infelizmente, nem sempre são ouvidos. Só a fraqueza, o descuido ou o orgulho do homem é que dão força aos maus espíritos; o poder deles sobre vós advém apenas do fato de não lhes opordes resistência.”
499. O espírito protetor está, constantemente, com seu protegido? Não haverá alguma circunstância em que, sem abandoná-lo, ele o perca de vista?
“Há circunstâncias em que a presença do espírito protetor junto de seu protegido não é necessária.”
Livro Libertação
“A recém-chegada pronunciou frases de paz, sem afetação, e endereçou-lhe a palavra em tom de infinita ternura:
— Irmão Gúbio, agradeço-te o concurso dadivoso. Creio haver chegado, efetivamente, o instante de aceitar-te a ajuda fraterna em favor da libertação de meu infortunado Gregório. Espero, há séculos, pela renovação e penitência dele. Impressionado pelos imensos recursos do poder, no passado distante, cometeu hediondos crimes da inteligência. Internado em perigosa organização de transviados morais, especializou-se, depois da morte, em oprimir ignorantes e infelizes. Pelo endurecimento do coração, conquistou a confiança de gênios cruéis, desempenhando presentemente a detestável função de grande sacerdote em mistérios escuros. Chefia condenável falange de centenas de outros Espíritos desditosos, cristalizados no mal, e que lhe obedecem com deplorável cegueira e quase absoluta fidelidade. Agravou o passivo de suas dívidas clamorosas, trazidas da insânia terrestre, e vem sendo instrumento infeliz nas mãos de inimigos do bem, poderosos e ingratos… Há cinquenta anos, porém, já consigo aproximar-me dele mentalmente. Recalcitrante e duro, a princípio, Gregório agora experimenta algum tédio, o que constitui uma bênção nos corações infiéis ao Senhor. Já lhe surpreendo no espírito rudimentos de necessária transformação. Ainda não chora sob o guante do arrependimento benéfico e parece-me longe do remorso salvador; entretanto, já duvida da vitória do mal e abriga interrogações na mente envilecida. Não é tão severo no comando dos Espíritos desventurados que lhe seguem as determinações, e o colapso de sua resistência não me parece remoto. Nesse instante, notei que a venerável matrona derramava lágrimas discretas, que lhe deslizavam na face como sementes de luz. Parou por alguns momentos, controlada pelas reminiscências dolorosas, e continuou:
— Irmão Gúbio, perdoa-me o pranto que não significa mágoa ou esmorecimento… Na pauta do julgamento humano comum, meu filho espiritual será talvez um monstro… Para mim, contudo, é a joia primorosa do coração ansioso e enternecido. Penso nele qual se houvera perdido a pérola mais linda num mar de lama e tremo de alegria ao considerar que vou reencontrá-lo. Não é paixão doentia que vibra em minhas palavras. É o amor que o Senhor acendeu em nós, desde o princípio. Estamos presos, diante de Deus, pelo magnetismo divino, tanto quanto as estrelas que se imantam umas às outras no império universal. Não encontrarei o Céu sem que os sentimentos de Gregório se voltem igualmente para a eterna sabedoria. Alimentamo-nos na Criação com os raios de vida imperecível que emitimos uns para com os outros. Como surpreender a perfeita ventura se recebo do filho amado tão somente raios de forças em desvario?”