Episode Transcript
Fiquemos sempre em paz compreendendo que o Cristo vela por todos e que cada um possui um anjo guardião que cuida carinhosamente, não apenas da sua existência física, mas preocupa-se com as necessidades emocionais e espirituais a cada dia. Que age, que protege, que envolve, buscando sempre ampliar a compreensão, a capacidade de amar e, acima de tudo, estimular o caminho do bem, a marcha austera e difícil da ascensão espiritual que, uma vez realizada, soluciona todos os conflitos inferiores e abre ao ser as possibilidades da felicidade inabalável, a alegria infinita de saber-se amado por Deus e, por isso, merecedor, por misericórdia divina, de conquistar todas as belezas do universo.
Podemos iniciar, minha filha.
Estamos muito felizes com a sua presença hoje. A nossa primeira pergunta é a seguinte: no caso de espíritos que se vincularam ao mal de forma profunda, existe um modelo a ser seguido para o retorno ao bem? Passarão eles pelas mesmas experiências emocionais até se redimirem? E qual o papel do anjo guardião nesse processo?
Podemos afirmar que, em termos gerais, falando de categorias amplas, todos viverão um processo muito semelhante. Aliás, Allan Kardec o apresenta em termos básicos no livro o Céu e o Inferno. Essa compreensão deverá expandir-se, é necessário o arrependimento, o reconhecimento que em algum instante da sua história espiritual ele optou pelo caminho contrário ao amor divino. É o início, a base, todos precisam viver isso. Não há um só caso em que o espírito transforma-se verdadeiramente sem esse passo inicial. É um passo que sugerimos que todos os espíritas reconheçam em si mesmos. Em algum momento houve o reconhecimento do desvio, mas é necessário que esse processo não seja apenas de uma vez. Falemos do exemplo a ser seguido de Paulo de Tarso: ao encontrar o Cristo ele reconhece, podemos dizer que há o grande reconhecimento, mas ao longo de uma década ele teve que desdobrar, especificar esse reconhecimento. Por exemplo, ele reconheceu que perseguiu o Messias, mas ele precisava rever todos os ensinos que tinha aprendido a partir desse reconhecimento. Precisou, por exemplo, meditar profundamente, sobre a força que amparava Moisés na travessia do deserto e chegou á conclusão de que essa força era o próprio Cristo. Em muitas dimensões suas emoções precisou ele alterar-se, reconhecer que estava no caminho errado. O padrão de relação com familiares, com amigos, tomou novo rumo. A resposta saudável precisava partir de que ele agora conhecia o Messias enviado de Deus. Os espíritas deveriam fazer o mesmo. É o que expressa Santo Agostinho e São Luís em o Livro dos Espíritos: toda noite fazer um balanço. Esse balanço tem que partir do reconhecimento que é: um dia estive no caminho do mal, reconheço isso. Como agi durante as últimas 12 horas? Em que momento o caminho do mal ainda persiste na minha vida? Em que situações as atitudes infelizes ainda se manifestam no meu ser? Consideremos, portanto, que é necessário um reconhecimento geral, imediato, mas que por si só não equaciona toda a problemática psíquica do ser. É necessário que diariamente esse reconhecimento geral seja aplicado no dia a dia. Por exemplo, o indivíduo abala-se excessivamente por uma contrariedade; se ele é honesto consigo, seguindo a orientação espírita, no momento da sua avaliação diária, ele há de reconhecer. Se eu reconheço o Messias, se sei que Ele é o enviado, o Cristo, se reconheço o amparo de meu anjo guardião, reconheço que permiti que o mal me dominasse naquele instante de desespero. Pois essa compreensão da vida, se vivida adequadamente, não deixa margem para o desespero. Então, voltando à resposta central, sim, há traços, há etapas indispensáveis, porém esses são marcos, depois da etapa do grande conceito, existe a continuidade que é a aplicação desta compreensão a milhares de esferas da vida emocional e de atitudes de cada ser. Allan Kardec inicia delimitando, marcando a primeira etapa: o arrependimento ou o reconhecimento, em seguida a disposição em aprender. Porque a expiação é a disposição íntima do espírito aprender e isso é muito mal compreendido hoje, porque na mente de muitos a expiação é uma espécie de tortura quando, na verdade, a expiação é a disponibilidade íntima do indivíduo vivenciar experiências educativas. Se joguei pessoas na lama eu preciso primeiro entender o que significa estar na lama. Por quê? Porque o passo seguinte é a reparação. E eu só posso reparar algo que eu conheça. Utilizaremos um exemplo ainda mais didático: eu quebrei um aparelho de rádio, arrependi-me. Quero reparar esse aparelho radiofônico. O que eu preciso? Aprender, estudar: como funciona esse aparelho? Para que, depois que eu entenda, eu possa restaurá-lo. Eu agi de tal forma a perturbar psiquicamente os indivíduos. Eu preciso entender de forma profunda o que é a perturbação psíquica para que depois eu possa ajudar com eficiência. Como o farei? Irei me candidatar a viver experiências semelhantes, para que depois, entendendo do ponto de vista vivencial o que são essas experiências eu complete os meus estudos teóricos e me torne alguém capaz de reparar esse erro. A expiação, portanto, como aponta Allan Kardec, ela é um aprendizado. Não é um permitir que a vingança divina atue em mim, não é uma concepção espírita nem cristã essa. É a necessidade de se vivenciar algo para que, no passo seguinte, eu esteja capaz e apto a reparar. Portanto, podemos, de forma inicial, elencar esses três grandes momentos: arrependimento ou reconhecimento, expiação ou preparação e reparação ou prática do bem. A herança medieval causou um verdadeiro distúrbio nessa compreensão. Por isso nos alongamos tanto na resposta. Até ousando-a atribuir ao grande Codificador uma mentalidade inferior, não é o caso. São termos que é preciso que o indivíduo se capacite para compreender e mesmo correlacionar com termos mais atuais. Podemos dizer, portanto, minha filha, que há sim três etapas centrais: reconhecimento, preparação e reparação. Para quem tenha dificuldade ou deseja entender esse tema convidamos a leitura da obra O Céu e o Inferno Segundo o Espiritismo, porque ali veremos depoimentos extremamente instrutivos, em que um espírito diz: fui um mal profissional, um mal médico, reencarnei para sofrer para depois eu poder entender melhor, porque ele tinha um saber intelectual, mas ele não tinha a compreensão do que era ser um paciente necessitado. Então, expiação não é completar uma determinada cota de sofrimento, até porque sabemos que o sofrimento no mundo espiritual é muito mais intenso do que o sofrimento no plano material, por um motivo óbvio: a sensibilidade do corpo espiritual é muito maior. Então, não se trata de nascer para sofrer. É inútil que os padres, que merecem nosso respeito, mas não são honestos quando, mantendo a sua postural medieval, querem falar em nome do Espiritismo afirmem que se nasce para simplesmente completar uma cota de sofrimento. O sofrimento é algo indispensável, mas não para pagar uma dívida, para o processo de aprendizado do espírito. Você pode inclusive sofrer menos e aprender mais. A prova é que todos sofrem, e os líderes das trevas reencarnados que continuam vinculados às trevas também sofrem. Trata-se de priorizar o que ensina Allan Kardec: aprender com o sofrimento. Mas não se trata apenas de sofrer. Esta é a segunda etapa. A terceira etapa é a etapa da reparação. Mas não são etapas em que o indivíduo simplesmente passa e ignora, elas são cumulativas. O espírito que está em fase de atuar na reparação ele ainda precisa aplicar em si a lógica do arrependimento, ele ainda precisa da dor que ensina. Portanto, Allan Kardec não diz que são 3 etapas separadas e distantes, o que ocorre é que em um momento predomina o arrependimento ou o reconhecimento. Em um segundo momento predomina a preparação ou expiação, como queira chamar. Em um terceiro momento, predomina a reparação. Mas as 3 fases estão sempre presentes em graus muito variados. Porque observemos o exemplo de Paulo de Tarso: ele está no deserto; o que predomina ali senão o arrependimento? Mas, ao interagir, ele já inicia uma fase de reparação. Ao desculpar-se ele inicia uma fase de reparação. E mesmo antes de ir para o deserto, na sinagoga, ali há uma tentativa de reparação. Portanto não sejamos aqueles que expressam uma visão de vida de isolamento. Todas as fases estão presentes. O que haverá é algo que irá predominar. Na terceira parte da pergunta, sobre o anjo guardião: ele será o grande maestro de condução para todas essas fases. Estamos falando, muitas vezes, de planejamentos que chegam a atingir a categoria milenar. Então, o anjo guardião irá trabalhar dialogando e respeitando o livre-arbítrio de seu protegido, mas estimulando para que cada uma dessas etapas possa ser vivenciada. Muitas vezes, segundo o livre-arbítrio do espírito, uma fase exigirá uma atuação ainda mais direta do que outra, ou determinado momento de determinada fase. Mas, certamente, podemos dizer que o anjo guardião sempre terá essa referência: o arrependimento, a preparação e a reparação segundo o espírito, a sua fase evolutiva e o mundo em que ele habita.
Muito obrigada pela sua resposta. A nossa segunda pergunta é: como o anjo guardião lida com a tristeza de ver seu protegido desviar-se pelo caminho do mal?
Num sentido imediato, é uma dor que ele optou por viver. Existem várias formas de lidar com esse sofrimento que irá variar segundo o perfil psicológico, espiritual de cada anjo guardião. Em termos gerais, o grande consolo é a compreensão do tempo de uma forma muito, muito mais extensa. Então, poderá o anjo guardião alimentar-se na esperança que guarda a convicção de que no futuro, talvez um futuro que demore 2 ou 3 milênios, o seu protegido atingirá o ponto de redenção relativa, mas muito preciosa. Portanto, o grande amigo do anjo guardião, podemos dizer, é a compreensão da eternidade. Porque, muitas vezes, trabalham por 10, 20 mil anos, em variados planetas, em condições mais diversas, para um dia poder ver lágrimas sinceras de busca de espiritualidade superior brotarem dos olhos de seus protegidos. São cenas comoventes a que tantas vezes presenciamos: espíritos que por rebeldia possuíram um ciclo de aprendizado ampliado em 20 mil anos mas que também como todos chega ao seu momento de redenção. E isso ocorre em todos os mundos em que a maldade ainda predomina. Sabe o anjo guardião que um dia todos esses milênios de angústia, de trabalho e de intenso sofrimento, mas também de uma imensa ternura chegarão ao fim com um resultado maravilhoso. Enfrenta com coragem e de terminação todas as dores dos mundos inferiores somente aqueles que já se tornaram capazes de olhar para a imensidade dos milênios futuros e que são capazes de pensar em termos de milhões de anos. O Criador é portador de consolos inimagináveis e oferta a todos aqueles que decidem elevar a sua compreensão da vida. Assim, minha amiga, os anjos guardiões são seres capazes de atravessar milênios de labores duros e intensos com a convicção que um dia o amor predominará no coração de seus protegidos e que eles renderão graças ao Pai por todas as dores, porque sabem que das dores é que brotam as felicidades que nunca serão abaladas em toda a eternidade.
Paz,
De vossa irmã e amiga,
Patrícia.